sexta-feira, 3 de agosto de 2012

CARNAVAL DE UMA NOTA SÓ

O Carnaval 2011 de Londrina tem uma nota só: zero! Como falar em carnaval popular de rua com palcos fixos? E as escolas de samba cadê? Até concordo que possa ter havido erro – se proposital ou não eu não sei – da Liga das Escolas de Samba ao falsificar a assinatura da cessão do autódromo para o desfile quando do pedido da verba do Promic para Secretaria de Cultura, mas nada justifica simplesmente banir todas as escolas de samba da folia. Ora se o autódromo é do município por que pedir autorização para quem terceirizou aquele espaço construído com dinheiro público? A desculpa não colou. Quem acabou penalizado foi o público que gosta do samba e as pessoas que têm amor às suas escolas. E olha que o samba no autódromo já vinha ganhando tradição e se transformando no sambódromo londrinense, um local amplo e com estacionamento que não demanda a interdição de ruas, por exemplo. Pena que cada vez mais o samba londrinense vai sendo enterrado por quem parece não gostar da mais popular das festas brasileiras. Já diz o trecho de uma música que “quem não gosta de samba bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça ou doente do pé”.
Para aqueles que dizem que o samba não combina com Londrina, basta lembrar dos carnavais empolgantes na então Avenida Paraná no meio da década de 1970. Na fase pré-Calçadão, o centro de Londrina fervilhava nas quatro noites de folia. Sábado e segunda com desfile de blocos dos clubes e avulsos. Domingo e terça era a vez das escolas de samba. O título do carnaval era disputado com muita empolgação pela Unidos e Independente, escola da Vila Nova, pela Acadêmicos do Samba, da Vila Casoni, e pela Bafo da Gibóia, também na região das duas vilas. No meio da década de 70, surgiu então a Chão de Estrelas que revolucionou o carnaval de rua da cidade. A escola, que chegou a ter quase mil integrantes (um recorde até hoje para o samba londrinense), trouxe em 1976 um dos mais belos sambas-enredos já cantados na avenida. O samba em homenagem aos pioneiros pés-vermelhos foi puxado pela ainda desconhecida Eliane Camargo – que depois viria a ser conhecida como a rainha do bailão Brasil afora – e outros cantores. A bateria cadenciada e com tamborins “desenhando” o samba encantaram o grande público que lotou a Avenida Paraná naquele ano. Não lembro de quem era a letra, mas até hoje ainda recordo da música que começava assim:
“São imigrantes, pioneiros de vários rincões
Vieram de pau de arara, de trem ao Paraná
Pra voltar não dava mais
A terra roxa, a fé e a esperança
Paraná, Paraná,
Chegaram com grandes pretensões
Trabalharam mais que os peões
Mas não sabiam que a tal geada
Era com fogo que tudo queimava
E meus senhores viram ao chão as estrelas
Que com tristeza choravam
Olhando os cafezais mudando de cor
O verde se transformar
A gralha azul outro pinheiro foi plantar
E meus senhores com as Cataratas choraram
Com as Sete Quedas puderam se levantar
Em Vilha Velha Renovar
O gado nelore, guzerá
Itaipu, microondas no ar
Lavouva branca, erva-mate, Yemanjá
Café solúvel salve o Paraná!”
Claro que a Chão de Estrelas não trouxe grandes carros alegóricos (para os padrões locais, bem entendido) como já foi visto recentemente no autódromo pelas novas escolas da cidade. Ela, porém, trouxe como novidade um samba cantado pelos seus integrantes – coisa que não ocorria até então, pois se ouvia o samba no palanque de autoridades e julgadores que ficava na praça Floriano Peixoto, além cumprir o enredo escolhido com alas determinadas e destaques em pequenos carros alegóricos. E o principal: grupo de passistas (a stais cabrochas como eram chamadas as mulatas), de capoeiristas (sempre presentes no carnaval de Londrina), um grande grupo de travestis (que ao mesmo tempo em chocava parte da sociedade, divertia o restante do público) e uma boa quantidade de baianas (coisa raríssima nos últimos carnavais de Londrina). A Chão de Estrelas fez história, curta é verdade como sempre em razão da verba enxuta oferecida pelo município, mas marcante. Essas escolas, baseadas em bairros centrais, e curiosamente no então chamado trecho abaixo da linha do trem, foram definhando com o tempo em razão da descontinuidade tanto por parte de seus diretores quanto por parte do município. Alguns prefeitos pouco afeitos ao samba simplesmente riscaram de seus planos o carnaval de rua de Londrina.
O fechamento da Avenida Paraná em 1977 deu início a esse desmonte. Jogado para a Rua Sergipe, para a Quintino Bocaiúva e para a Maringá, o samba londrinense recuperou o fôlego só na década de 1990 na recém-inaugurada Leste-Oeste pelo prefeito Wilson Moreira. Com grandes arquibancadas montadas no canteiro central, o público pôde apreciar o samba do alto. Nesse período já reinavam outras escolas como a Unidos do Jardim do Sol, Bahia Abraça Londrina e novata Quilombo dos Palmares. Posso ter esquecido uma ou outra escola, mas essas três lutavam pelo título de campeã. E já se notava o deslocamento do eixo do samba londrinense dos bairros mais centrais para a periferia. A Quilombo, escolhendo o verde e rosa da Mangueira, representava o Cincão, embrião do que viria a ser a Zona Norte hoje (muito mais populosa).
E nesse vai e vem descontínuo e desorganizado, o carnaval de rua de Londrina foi sobrevivendo até que na última década ressurgiu com força: uma liga de escolas foi formada e os desfiles passaram para o autódromo que já desfruta de uma certa estrutura. Quilombo e Jardim do Sol que se rivalizaram nos anos 90 quase sucumbiram e foram suplantadas por escolas da zona sul da cidade, como a Garotos Unidos e a Gaviões Londrinense. A Zona Norte ganhou a Explode Coração e a Império da Zona Norte. Em 2008, por exemplo, à exceção da Império que fazia parte do grupo B, as demais eram do grupo A. Já Sangue Azul, Jardim do Sol e Alegria da Passarela participaram do desfile do sábado como convidadas. E a Quilombo pediu licença como trouxe uma matéria da Folha de Londrina de 5/2/2008. Bem, posso até ter me equivocado em algum dado, mas é tácito afirmar que Londrina tem sim samba no pé e tradição no desfile de carvanal. Basta vontade, política acima de tudo, para que a festa de Momo volte alegrar a cidade com concurso de rei e rainha do carnaval e o principal: desfile de escolas de samba. Ah, sim os blocos são bem-vindos, mesmo com batuque de branco, mas desde que sigam os passos dos blocos cariocas e saiam às ruas arrastando a multidão na Higienópolis, por exemplo, ou na Saul Elkind. O que não pode é matar de vez o carnaval londrinense.






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BRASIL NA OLIMPÍADA

Em mais uma Olimpíada comenta-se falta de resultado mais expressivos da delegação brasileira. Em menos de uma semana de competição, conquistamos 'somente' 4 medalhas - grande mérito do judô que rendeu um ouro e dois bronzes. A prata é do Tiago Pereira na natação. Hoje teremos Cesar Cielo  com chance de ouro também na piscina. A grande incógnita são os esportes coletivos. O vôlei parece ter perdido o rumo, tanto o feminino quanto o masculino. Zé Roberto e Bernardinho não conseguem mais tirar o algo mais para que o Brasil supere obstáculos em quadra. A derrota do feminino para a Coreia do Sul foi emblemática. Mostrou um time sem capacdade de reação. O revés de Dante e cia. nesta quinta para os Estados Unidos também serviu para mostrar que a seleção pode ficar de fora do pódio. O basquete feminino nem merece comentários. A fraca campanha é resultado da falta de trabalho de base e investimento - isto para um país que daqui quatro anos vai sediar a Olimpíada. O time masculino dirigido pelo argentino Ruben Magnano  não incorporou a tática e ensinamentos que ele prega. Jogadores pra lá de tarimbados insistem em arremessos e jogadas precipitadas que custam a derrota da equipe, como nesta quinta diante dos russos. Resta o futebol masculino, apontado como favorito após a eliminação da Espanha. Se não deixar o ego de lado e encarar seleções menos cotadas com seriedade, pode voltar para casa sem o almejado ouro.

Restarão esportes individuais e o vôlei de praia, que sempre garante medalhas ao país, para que o Brasil suba no ranking olimpíco. Mas se não conquistarmos tantas medalhas quantas as previstas? Vamos sair criticando atletas e treinadores por suposta falta de empenho ou pior de amarelão? Não é por aí que vamos melhorar o desempenho do país no esporte. É preciso cobrar dirigentes esportivos que se perpetuam no cargo e as autoridades políticas investimento e seriedade no trabalho com nossos atletas. Do contrário, teremos decepção ainda maior em 2016 no Rio de Janeiro. E, pra variar, virão as piadinhas sobre o fracasso de ginastas, do sumiço da vara do salto em altura, do golpe proibido no judô, etc. A conquista de medalha só vem com trabalho de longo prazo, com estrutura completa de trabalho ao atleta e, claro, remuneração que garanta a tranquilidade necessária para a busca da vitória. Se não for isso, continuaremos sendo medalha em piadinha pronta e sem graça nenhuma.