segunda-feira, 2 de setembro de 2013

ÉLBER, DE LONDRINA PARA O MUNDO


Nome: Elber Giovane de Souza
Idade: 31 anos (23/07/72)
Local de nascimento: Londrina
Altura: 1,80 metro
Peso: 80 quilos
Onde jogou: Londrina de 1990/91, Grasshopper (Suíça) de 1991/94, Milan (Itália) de 1991/94 , Stuttgart de 1994/97 e Bayern Munique (Alemanha) de 1997/2003
Principais títulos: campeão sul-americano pela seleção brasileira de juniores em 90; vice-campeão mundial pela seleção brasileira de juniores 91; campeão da Copa da Suíça em 93 pelo Grasshopper; campeão da Copa da Alemanha em 97 pelo Stuttgart; e campeão da Copa da Alemanha em 98... campeão da Alemanha 99/2000.

Elber, de Londrina para o mundo

Claudemir Scalone
De Londrina


O destino do atacante Elber, 28 anos, poderia ter sido outro se o futebol não tivesse cruzado o seu caminho. Quem vê hoje o artilheiro do Bayern de Munique, sequer imagina o quão difícil foi sua vida na infância na periferia de Londrina. De origem humilde, Elber viu-se obrigado desde cedo a batalhar para auxiliar no sustento da família de quatro filhos do casal José e Laudicéia de Souza.
Elber e os irmãos catavam papel pelas ruas de Londrina para ajudar a família. ''Trabalhava de doméstica para ajudar o meu marido e fiz um carrinho para que os meus filhos pudessem ganhar um dinheirinho recolhendo papel'', conta dona Laudicéia. ''Graças a Deus consegui criar quatro homens de respeito'', agradece ela, lembrando ainda que Elber trabalhou em supermercado e na feira- livre.
Entre 1987 e 1990, Elber conseguiu emprego de estagiário no Banco do Brasil e conciliava trabalho, estudo e o futsal no time da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil). ''Trabalhava quatro horas por dia e tinha o resto do tempo para estudar e jogar. Era gostoso demais trabalhar com o pessoal do BB'', relembra Elber.
A transformação radical na vida de Elber e da família Souza teve início em 1990 quando Elber, defendendo a seleção londrinense de futsal nos Jogos da Juventude do Paraná, chamou a atenção de Iran Campos, na época diretor de futebol amador do Londrina Esporte Clube.
Iran ficou admirado com o talento do jogador e o convidou a fazer um teste no time júnior do Londrina. Mostrando desde cedo o seu senso profissional, Elber recusou-se a ser submetido a uma avaliação superficial. Pediu mais tempo para mostrar serviço. O clube cedeu ao seu apelo e não se arrependeu.
''Dois meses depois de treinar no time júnior, o Paquito (técnico) me levou para os profissionais'', lembra Elber, que teve de tomar uma decisão importante na época: seguir no futebol ou prestar o concurso interno do Banco do Brasil. O bom salário e a carreira garantida no BB quase o fizeram a largar a ainda incipiente carreira no futebol. ''Só decidi continuar jogando porque fiquei sabendo que o concurso do BB poderia ser extinto.''
Elber disputou então a Copa Contubos (atual Taça Londrina) de Juniores pelo Londrina em dezembro de 1990. Apesar de o time ter sido vice-campeão, o bom futebol do atacante cativou Antoninho, ex-olheiro da Confederação Brasileira de Futebol falecido em fevereiro deste ano.
O jogador foi, então, convocado para a seleção brasileira de juniores. O Brasil acabou sagrando-se campeão sul-americano e Elber destacou-se marcando seis gols. No Mundial da categoria em Portugal, a seleção foi vice-campeã mas o jogador marcou cinco gols e atraiu a atenção do futebol europeu.
''Foi lá que tive o meu primeiro contato com o pessoal do Grasshopper da Suíça. Eles ficaram interessados em me contratar mas consideraram alto os US$ 300 mil pedidos pelo Londrina'', conta Elber. Alguns meses depois, o Milan da Itália pagaria US$ 1 milhão pelo seu passe na maior transação já feita pelo Londrina. Os próprios torcedores do Londrina pouco conheciam Elber, que ficou cerca de seis meses no clube. ''Fiquei mais tempo na seleção do que no Londrina'', confirma o jogador, que construiu uma sólida carreira no futebol europeu.
A venda para o Milan trouxe fama e dinheiro a Elber. A família deixou a velha casa do Jardim Sérgio Antônio (zona leste) e mudou-se para um apartamento no centro de Londrina. Mais tarde com a mudança de clubes - do Milan foi emprestado ao Grasshopper, depois vendido ao Stuttgart por US$ 3 milhões e, por último, negociado ao Bayern de Munique por cerca de US$ 9 milhões -, Elber pôde comprar um sítio para o pai e dar um apartamento para cada irmão (José Carlos, João Bosco e Carlos Alberto).
''Tudo o que temos hoje devemos ao Elber. Se não fosse ele estaríamos naquela vida sofrida de antigamente. Graças a Deus é ele ainda quem sustenta a gente'', reconhece dona Laudicéia. ''Deus deu a estrela para ele e nos brilhamos juntos também'', diz a mãe de Elber com um enorme sorriso de felicidade.
Elber também não se arrepende de ter trocado o banco de reservas do Milan para defender o modesto Grasshopper. ''O Milan tinha muitos estrangeiros e as chances para eu jogar eram poucas. Para eles, eu era um investimento para o futuro. Então, pedi para ser emprestado.''
O atacante jogou durante três anos na Suíça e nos intervalos do Campeonato Suíço fazia treinos e amistosos pelo Milan. No Grasshopper conquistou a Copa da Suíça em 1993 e foi o artilheiro da competição com 21 gols. No ano seguinte, foi para o Stuttgart da Alemanha. ''Logo no primeiro ano fraturei a tíbia e o perônio e fiquei seis meses parado'', recorda Elber, sobre sua primeira temporada no futebol alemão.
Apesar do contratempo, o artilheiro marcou 8 gols. Na temporada 95/96, foram 16 gols. Em 96/97, ele foi o vice-goleador do campeonato alemão marcando 17 gols. A consagração veio com os dois gols marcados na conquista do título da Copa da Alemanha de 97. O brilho do artilheiro despertou o interesse do poderoso Bayern de Munique que o contratou em julho de 97. Em seu primeiro ano de Bayern sagrou-se bicampeão da Copa da Alemanha no ano passado.
Apesar do sucesso no Stuttgart, Elber só foi ter seu trabalho reconhecido na Seleção Brasileira depois de se transferir para o Bayern. Sua primeira convocação ocorreu em fevereiro de 98 para a disputa da Copa Ouro nos Estados Unidos, última fase de preparação para a Copa da França.
''Pra mim foi bom ter tido uma chance com o Zagallo na seleção. Só fiquei chateado por uma entrevista que ele deu a uma televisão alemã, dizendo que 'igual ao Elber temos de dez a vinte jogadores no Brasil'. Como ele pôde dizer uma coisa dessa se nunca tinha me visto jogar?'', diz com um pouco de mágoa. Mesmo com poucas chances, Elber participou de dois jogos e acabou marcando dois gols, um deles de calcanhar. Depois faltando três meses para o Mundial, uma fratura na clavícula tirou-lhe as chances de disputar a Copa.
Ele teve chances ainda com o técnico Wanderley Luxemburgo, mas uma outra contusão no pé direito em junho do ano passado tirou-o da seleção outra vez. Ele só está voltando agora com Luiz Felipe Scolari, que substituiu Emerson Leão.
''Sei que há muitos bons jogadores na minha posição e não posso dar bobeira. Tenho que continuar mostrando que tenho condições de vestir a camisa do Brasil'', diz o atacante, que já tem engatilhado alguns projetos para o futuro.
''Tenho um contrato com a Adidas e penso em fazer alguma coisa aí em Londrina. Talvez, uma loja de materiais esportivos'', planeja. Também está nos seus planos atuar como procurador. ''Conheço vários empresários na Europa e posso atuar nessa área também'', adianta. O fato de falar bem o alemão, o espanhol e o italiano será um trunfo a mais na sua carreira, destaca o jogador.
Mas o goleador Elber já faz seus gols fora de campo. A infância humilde e cheia de dificuldades fez o artilheiro voltar suas atenções para os menores carentes de Londrina. Desde maio de 1997 funciona na cidade a Escola Oficina Pestalozzi, financiada por Elber e algumas instituições da Alemanha. A escola fica no Jardim Franciscato (zona sul) e oferece cursos profissionalizantes gratuitos a cerca de 250 menores carentes.

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